Urias lança “Carranca” e fala ao Hashtag Pop sobre liberdade, ancestralidade e proteção
Em entrevista exclusiva, artista explica o significado do novo álbum, inspirado na simbologia afro-brasileira da carranca e em reflexões sobre liberdade, vingança e fé.

A cantora e compositora Urias acaba de lançar seu novo álbum “Carranca”, disponível em todas as plataformas digitais. A obra marca o início de uma nova fase da artista, mais madura, consciente e profundamente conectada às suas raízes afro-brasileiras. Em entrevista exclusiva ao Hashtag Pop, Urias contou detalhes sobre o processo criativo do projeto e o simbolismo por trás do nome.
“O processo criativo surgiu através de uma curadoria de vinis antigos do DJ Gork, grande produtor. E também através de um estudo sobre a liberdade, a falta de liberdade, e como isso reflete na nossa vida, do povo negro brasileiro. O álbum é meio que isso, uma busca pela liberdade, mas que acontece através da vingança”, explicou.

Sobre o nome do disco, Urias detalhou: “A Carranca é uma estátua, um símbolo de proteção de matriz africana que foi trazido nos navios negreiros. Ela era colocada na frente das embarcações para proteger a viagem. Aqui no Brasil, virou um símbolo popular de proteção, independentemente da religião. Eu quis trazer isso, algo de matriz africana, mas também algo que pertence ao Brasil como um todo.”

“Carranca”, figura grotesca geralmente esculpida em madeira, tem origem nas embarcações do Rio São Francisco, onde era usada para afastar maus espíritos e garantir viagens seguras. Nas religiões de matriz africana, ela está ligada a Exu, o orixá mensageiro entre o mundo espiritual e o material, associado à criação e à liberdade, conceitos centrais no álbum de Urias.


Com 14 faixas, incluindo três interlúdios narrados por Marcinha do Corintho, o projeto conduz os ouvintes por uma jornada simbólica sobre liberdade, revolta, amor e ancestralidade. Na introdução, Urias fala sobre a falsa liberdade: “a liberdade está dentro de uma casa na qual eu não posso entrar”, enquanto, no segundo interlúdio, surge a vingança como reação. O encerramento faz um retorno simbólico à Etiópia, representando a reconexão com a origem e a verdadeira liberdade. “Esses interlúdios se conectam diretamente com o tema central do disco. Eles funcionam como pontos de respiração e reflexão, mas também como guias para entender a narrativa maior da obra”, contou a artista.
A direção criativa do álbum é assinada por Ode, que desenvolveu uma estética afro-surrealista, misturando referências de diferentes épocas e entidades. As imagens evocam figuras como Josephine Baker, Sarah “Saartjie” Baartman, Oxalá, Iemanjá, Iansã, Hórus e Ptah. “Eu chamo isso de transcorporeidade”, explica Ode. “É uma forma de representar nossos ancestrais e divindades de modo libertador, rompendo com as visões eurocêntricas de identidade.”
O disco conta com quatro participações especiais: Criolo (“Deus”), Giovani Cidreira (“Herança”), Major RD (“Voz do Brasil”) e Don L (“Paciência”).Encerrando a entrevista, Urias deixou um convite aos leitores do Hashtag Pop:
“Carranca já está em todas as plataformas digitais, tá bom? Vai lá ouvir e me conta o que você achou!”