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Black Mirror (Temp. 6) – “Mazey Day”

A perda da humanidade é a ascensão do capitalismo.

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Black Mirror (Temp. 6) – “Mazey Day”
Foto: Divulgação

Black Mirror sempre nos coloca para pensar. Os episódios não são de fácil compreensão e na medida em que vamos consumindo este conteúdo, precisamos parar e analisar com calma quais mensagens o roteiro quis passar ao público. Serão diversas formas de análises, cada um com seu entendimento e aqui vai o meu.

Em Mazey Day acompanhamos a jornada de Bo (Zazie Beetz), uma paparazzi que ganha a vida caçando expondo a vida de celebridades. Logo de início vemos que Bo está flagrando um jovem ator e decide expor sua intimidade para a mídia. As fotos tiradas por Bo não foram tão valiosas e sucessivamente mal pagas. Com isso, Bo é atingida pela notícia de que o ator exposto se suicidou, sendo assim, Bo percebe a falta de humanidade de seu trabalho e decide parar com a vida de paparazzi. Posteriormente, conhecemos Mazey Day (Clara Rugaard), uma famosa e jovem atriz já conhecida pelo seu vício em drogas que comete um trágico acidente. O acidente causado pela Mazey Day faz com que sua vida se torne uma grande maldição, sendo assim, a jovem se afasta das câmeras e some da mídia. O sumiço de Mazey Day faz com que Bo volte ao seu trabalho de paparazzi, pois, uma foto da atriz em um estado de vício seria valiosa e traria muito dinheiro. Portanto, Bo sai em busca de Mazey Day esperando encontrá-la sob o efeito de drogas, mas na real encontra a jovem em um estado muito mais crítico. 

No quarto episódio de Black Mirror, vemos uma enorme crítica da série a indústria das mídias e do entretenimento. Um verdadeiro ataque não só aos paparazzis como a todos que expõe a vida alheia em suas intimidades, e o quanto isso pode se tornar um problema para a vida pessoal dessas pessoas que são expostas. Aqui somos entregues ao poder do capitalismo. Quando Bo se viu com dinheiro em mãos, deu prioridade para a compra de um iPod ao invés de pagar suas contas básicas como aluguel e alimentação. O episódio inteiro se passa nessa busca incessante pelo dinheiro, mesmo que para isso você precise perder sua humanidade, nada importa, somente o alto valor de mercado de uma boa polêmica. 

Num determinado momento do episódio a Bo percebe que o quanto seu trabalho é impactante para a vida de muitas pessoas, porém, ela se rende facilmente quando percebe que há uma mina de dinheiro em volta de apenas uma celebridade. 

[Alerta de Spoiler]

Daí somos transportados para uma parte da trama onde a fantasia é incluída. 

Descobrimos que a atriz Mazey Day está tentando se tratar, porém, seu problema não é com drogas, na realidade ela se tornou uma Lobisomem. Aqui podemos tratar a maldição de Mazey Day como uma personificação de seu vício. O estado de Mazey Day é muito preocupante, a atriz mostra que está tentando buscar um tratamento para essa maldição, o que podemos entender como uma reabilitação para seu vício em drogas. De uma certa forma, fica claro que a maldição do Lobisomem é seu vício quando seu “tratamento” será realizado numa clínica de reabilitação.

Quando a trupe de paparazzis, incluindo a Bo, se deparam com a atriz percebem que aquilo é uma mina de ouro, as fotos de Mazey Day seriam uma fortuna para a indústria da mídia. Em momento algum os paparazzis possuem qualquer piedade pelo momento, mesmo com a Bo tentando humanizar aquele momento, em pouco tempo vemos sua própria rendição. O valor capital de cada fotografia começa aumentar a cada momento em que vemos a transformação de Mazey Day, os paparazzis olham para aquela fera como um produto, e a cada novo flash uma nova quantia é adicionada a sua conta. Ali percebemos que a vida em si não possui valor algum, já que em nenhum momento as pessoas tentam se salvar, elas só querem uma boa foto, ou seja, elas só querem dinheiro. As câmeras usadas para captar Mazey Day são disputadas por contar tamanho valor de mercado. Então vemos Bo completamente refém do mercado, completamente transformada no maior monstro, naquele que perde sua humanidade para conseguir sucesso. No maior momento de intimidade e fragilidade de Mazey Day, completamente em crise e querendo se suicidar para fugir do caos que é sua vida, Bo aponta a câmera, aquela seria uma foto de milhões. 

Com o encerramento da trama, percebemos que a maldição do Lobisomem é apenas um estereótipo de diversas maldições citadas, como a falta de humanidade, o vício em drogas, o capitalismo e a indústria de mídias. A nossa protagonista tão humana em determinado momento se rende a maldição e se torna a própria Lobisomem, sugando a vida de muitas pessoas em prol de seu sucesso. 

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