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Black Mirror (Temp. 6) – “Loch Henry”

Será que estamos obcecados por conteúdos true crime?

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Black Mirror (Temp. 6) – “Loch Henry”
Foto: Divulgação

Ao que parece vivemos uma realidade paralela onde a dor do outro é satisfatória para os nossos olhos. Porém, essa realidade não é paralela, é o nosso presente e o melhor produto a ser vendido pelos streamings. 

Em “Loch Henry” conhecemos uma dupla de jovens cineastas que buscam por uma nova história para produzir um documentário. Davis (Samuel Blenkin) e sua namorada Pia (Myha’la Herrold) viajam em busca dessa história, mas realizam uma parada na casa da mãe do cineasta, que fica numa cidade pouco povoada no interior da Escócia. Durante a visita Pia descobre o motivo da cidade ser praticamente fantasma. Um crime assombrou a cidade no passado e com isso afastou turistas e moradores. Com essa notícia Pia faz com que Davis altere a rota do documentário, contando a história do crime e o ponto de vista dos moradores e de quem foi impactado pelo assassino. Contudo, as buscas resultam em informações que tornam o documentário impactante até mesmo para os produtores.

Logo nos primeiros minutos de “Loch Henry” somos ambientados em um clima tenso e de suspense, onde teremos um misto de sentimentos ruins como dor, tristeza, luto e indignação. Com uma paleta de cores frias, um clima frio e em uma cidade pequena sabemos o que nos aguarda neste tipo de conteúdo. Como vemos no primeiro episódio de Black Mirror, há um certo desejo pelo true crime por parte do público, gerando maior engajamento aos streamings, e por isso, as apostas da indústria do entretenimento é neste tipo de conteúdo.

Não entraremos novamente no assunto de que atualmente a indústria nos entrega produtos true crime e que estes são um sucesso, passaremos adiante analisando o que este episódio traz para nós em relação a este tipo de conteúdo. 

Davis se vê diante de uma grande história, contudo, ele terá de se render a sua humanidade, contando o quanto essa tragédia foi impactante para sua família. O diretor do documentário coloca a arte acima da dor e do luto em que ele e sua família vivem para contar a história de um crime. Esse é um dos pontos altos que podemos enxergar no episódio. Aqui, “Loch Henry” nos faz pensar até onde iremos para alcançar o sucesso, o rendimento de Davis ao desagradável é uma sombra da nossa realidade. Diariamente vivemos momentos ruins e naturalmente acabamos expondo e enfatizando o pior de nossos dias, pois, sabemos da força desse tipo de assunto, conhecemos o engajamento nas redes sociais para o desagradável. Em nosso feed somos apresentados a momentos de cada seguidor, mas somente quando vemos alguma notícia que nos dê um sentimento ruim, ali paramos damos atenção e reagimos, compartilhamos e damos engajamento. 

Voltando a atmosfera fria do episódio, Davis e Pia mostram que sua busca pelo real e grotesco será a fonte de sucesso. Novamente vemos um episódio que faz uma autocrítica ao serviço de streaming, usando Dahmer da Netflix como exemplo, a produção de conteúdos sobre o modo impactante da vida dos outros é de bom agrado do público. Escrever e ler isso é muito desumano, mas é a realidade de nossos dias. Por fim, após algumas revelações impactantes no episódio, vemos Davis atingir o topo da indústria do entretenimento, mas conseguimos sentir seu sentimento de repulsa pela invasão de sua privacidade, pela exploração de sua história e o abafamento de seus reais sentimentos. Já no minuto final, fica o questionamento de quais serão os próximos passos de Davis, mas acredito que todos sabemos a resposta.

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