Lady Gaga, TikTok e memes: Felipe Kino explica como o Brasil virou fábrica de fenômenos
"Como o Brasil virou referência global em criar, reinventar e espalhar cultura pop.

Felipe Kino, cofundador da Gaiah, fez um texto em seu Instagram que traduziu o sentimento coletivo após o show histórico da Lady Gaga no Brasil. Para ele, o “chegar lá” da cultura pop não acontece mais só nos palcos dos Estados Unidos. Hoje, o auge tem nome e endereço: Brasil.

E quem conhece a internet brasileira sabe que o que aconteceu em Copacabana não foi só um show: foi consagração popular, como ele mesmo escreveu. São 2,1 milhões de pessoas de pé, na praia, sem pagar ingresso, mas pagando com o coração.
À frente da Gaiah, agência que vem ganhando destaque por entender o jeito único do brasileiro de consumir, reinventar e espalhar cultura, Kino lidera projetos com campanhas criativas, casting plural e estratégias pensadas para gerar vínculo real entre marcas, creators e suas comunidades.
O Hashtag Pop conversou com ele sobre o impacto da internet brasileira, o novo conceito de fama e o que esperar do futuro da influência digital:


1) A internet brasileira é famosa por ser diferente. Por que o nosso jeito online chama tanta atenção?
Felipe Kino: Porque a internet no Brasil não é só uma plataforma, é praticamente uma extensão da nossa alma coletiva. Aqui a gente pensa, zoa, emociona e compartilha tudo ao mesmo tempo. Enquanto em outros países as pessoas curtem e seguem, aqui a gente transforma qualquer post em evento cultural, faz mutirão, invade perfil de artista gringo e cria memes que atravessam fronteiras. O brasileiro não só consome conteúdo, ele se apropria, reinventa e espalha. É barulho, é emoção, é criatividade.
2) Como essa internet tão intensa mudou o conceito de ser famoso?
Felipe Kino: Ser famoso deixou de ser sobre aparecer na TV no domingo à tarde. Você já parou pra pensar que hoje você pode ser a sua própria emissora de TV? E nessa sua emissora você tem sua identidade visual, seus programas, sua grade de conteúdos e até uma agência que costura publicidade no seu próprio horário do plim plim. A fama não é mais universal, é comunitária. Você não precisa ser conhecido por todos, precisa ser essencial pra quem importa: a sua comunidade. E num Brasil que vive online 24 horas, tem gente que você nunca ouviu falar, mas que arrasta multidões, lota shows e fecha campanhas porque construiu vínculo verdadeiro.
3) Quais exemplos mostram o poder do Brasil em transformar momentos em fenômenos digitais?
Felipe Kino: O show da Lady Gaga em Copacabana é a prova viva. Ela já tinha feito o Super Bowl, mas foi aqui que viveu a consagração popular: 2,1 milhões de pessoas na praia, de pé, sem ingresso, mas pagando com o coração. A internet brasileira pegou aquilo e transformou em avalanche de memes, vídeos e análises que rodaram o mundo. Outro exemplo é o filme Ainda Estou Aqui, que virou surto coletivo misturando emoção, meme e crítica. No Brasil, a gente não só consome cultura, a gente a reinventa e espalha com força.
4) Você sempre fala sobre cada plataforma ter sua linguagem. O que isso significa de verdade?
Felipe Kino: Significa que quem posta o mesmo vídeo no TikTok e no Instagram esperando o mesmo resultado está perdido. O Instagram é sobre vínculo, o TikTok é sobre descoberta. Usar o mesmo conteúdo nos dois é como tentar tocar violino com uma baqueta de bateria. Quem entende essa diferença domina seu nicho, cria frequência, entrega afeto e constrói autoridade. A consequência? Quando a publi chega, não soa como venda, mas como parte natural da história que a pessoa já acompanha.
5) As marcas estão conseguindo acompanhar essa evolução dos creators?
Felipe Kino: Muita marca ainda vive no briefing de 2020: 1 reels, repost no TikTok e três stories, achando que isso resolve tudo. Mas se não entende a comunidade do creator, o conteúdo vira ruído. Influência não é aparecer, é fazer sentido. O novo briefing precisa começar com afinidade, contexto e confiança. Senão, vai ser só barulho, e barulho não cria vínculo nem vende.
6) Pensando no futuro, como você enxerga o caminho da influência e do conteúdo no Brasil?
Felipe Kino: O futuro não é de quem aparece mais, mas de quem conecta melhor. Ele se resume a três palavras que guiam tudo: comunidade, consistência e contexto. Quem souber contar histórias respeitando os códigos de cada plataforma e entendendo de gente vai continuar relevante. Quem não souber vai ficar tentando viralizar vídeo reciclado que não toca ninguém.
7) Pra fechar: qual recado você deixa pra artistas, creators e marcas que querem se destacar no universo pop do Brasil?
Felipe Kino: Se você quer ser relevante no Brasil, entenda que aqui não basta aparecer, é preciso pertencer. O público brasileiro quer verdade, vínculo e entrega. Não adianta só patrocinar um conteúdo e achar que vai conquistar. É preciso conhecer a comunidade, falar a língua dela e respeitar seus códigos. Quem não fizer isso vai ficar pra trás, porque o Brasil não espera: ele abraça quem entende o seu ritmo e a sua intensidade.