Aquecimento Oscar 2024: Nimona mostra o conflito daqueles que vivem reclusos do seu verdadeiro eu em uma épica aventura
O conto medieval que explora as questões reais da sociedade moderna.
Caro leitor, a estatueta mais cobiçada do cinema está pronta para ser entregue aos favoritos da academia, e no dia 10 de Março a premiação será apresentada por Jimmy Kimmel em Los Angeles. Para você se preparar para a cerimônia de entrega, fique ligado nas próximas semanas aqui no portal, pois, esta coluna dedicada a filmes e séries está empenhada em trazer para você, uma análise de cada título indicado nas principais categorias do Oscar 2024.
Iniciamos nosso aquecimento com os indicados a Melhor Animação, hoje conheceremos um pouco de Nimona (Netflix, 2023).
Nimona que foi uma obra rejeitada por diversos estúdios, inclusive pela Disney, se coloca como protagonista entre os indicados. Seus problemas nos bastidores conversam exatamente com sua história que se baseia em rejeição e aceitação.
Num conto onde a premissa é sobre um cavaleiro que tenta conquistar a nomeação de Cavaleiro do Reino num cenário medieval/futurista, conhecemos Ballister Blackheart (Riz Ahmed) um plebeu que busca a ascensão e reconhecimento é acusado injustamente de um grave crime pela realeza. Dessa forma, o reino lembra a todos a preocupação e o erro em reconhecer pessoas que não fazem parte das nobres famílias do reino para que sejam seus próximos protetores. De amado a odiado, Ballister foge e se vê sozinho vagando por um reino cercado por enormes barreiras e isolado do mundo. Então, somos apresentados a Nimona (Chloë Grace Moretz), uma metamorfa capaz de se transformar em animais de cores rosadas e até mesmo em humanos, com propósitos de acabar com o reino que tanto a rejeitou, mas que mantém um coração caloroso capaz de ajudar seu amigo que também foi rejeitado. A aventura dessa dupla se intensifica, a sinergia entre os dois torna a história bela, sensível e verdadeira.
Conhecendo um pouco da história de Nimona podemos reconhecer algumas semelhanças com a nossa sociedade. Por mais que falamos de uma animação, onde o seu público-alvo seriam crianças, também falamos de um conto que nos coloca a pensar, repensar e compreender sinais que estão em todos os cantos do nosso dia a dia, tornando este um conto maduro e de fácil compreensão para todas as idades. Não adianta fugir do que é a realidade, e Nimona estampa em nossa cara essa verdade.
A garota metamorfa que se põe contra o sistema é completamente diferente daquilo que a sociedade conservadora permite aos seus cidadãos. Por mais que Nimona tenha qualquer forma, ela não se reconhece em nenhuma delas. Isso se dá ao fato de que durante a sua história, as pessoas não reconheceram a garota pelo seu carisma, personalidade, pela sua essência, mas reconheceram ela como um monstro, pois, ela não é apenas um humano, sendo assim, diferente de todos. Num momento do conto Nimona se mostra triste por não poder ser aquilo que ela é, é doloroso para a personagem ficar sem se transformar, não ser aquilo que ela nasceu para ser, é doloroso para a personagem ser a forma que a sociedade quer que ela seja, apenas a forma de uma humana qualquer.
O reino medieval que evoluiu em muitas questões, principalmente tecnológicas, se mostra conservador, seus grandes muros impedem que o reino enxergue o que está fora dele. Podemos colocar aqui a imagem de uma pessoa conservadora que se mantém dentro de seu muro, e isso a impede de conhecer o outro a partir de sua essência independente de sua aparência.
A jornada dos nossos protagonistas encena o desafio daqueles que enfrentam uma sociedade que rejeita aqueles que são considerados fora do “padrão”. A falta de aceitação de Nimona a torna refém de uma imagem que ela não quer ser, isso nos coloca em reflexão para entender a gravidade de não aceitar o próximo a partir de sua essência. Podemos sentir a dor de nossa metamorfa ao ser rejeitada. Aqui colocamos a realidade dos que se identificam com a sigla LGBTQIA+, principalmente aos trans e não-binários, tentando a qualquer custo ser aquilo que nasceram para ser, mas por causa de rejeições, seguem padrões impostos pela sociedade acumulando dor, raiva, tristeza e amargor.
Aqui conhecemos heróis, rejeitados por ser da plebe, rejeitados pela sua sexualidade, rejeitados pela sua aparência, rejeitados por ser quem são, mas que no final prova que a sua essência está acima de tudo aquilo que a sociedade impõe como “padrão”.
Quando falamos sobre animação, não precisamos apenas de uma narrativa boba pra entreter crianças, mas podemos trabalhar com metáforas que deixam claro o intuito e a razão pela qual aquela narrativa foi feita.
Nimona é uma obra prima da animação. Uma obra corajosa que dá voz aos que precisam ser ouvidos, aos que gritam por ajuda e aos que sofrem em seu doloroso silêncio.
Nimona está disponível na Netflix.
Nota: 5/5