Hashtag Pop

Análise – Guerra Civil (2024): O jornalismo num presente distópico tão próximo da realidade que chega a assustar.

O novo e último longa de Alex Garland chega aos cinemas no dia 18 de abril.

publicado em

Quando falamos de distopia, estamos falando de um cenário hipotético, onde apresentamos fatos fora da nossa realidade, aqui em Guerra Civil a distopia está tão próxima da realidade que liga um alerta no público, afinal, estamos falando de uma distopia ou já estamos numa escalada para vivenciar isso?

Em Guerra Civil conhecemos Lee (Kirsten Dunst) uma fotojornalista de guerra que junto de Joel (Wagner Moura), Jessie (Cailee Spaeny) e Sammy (Stephen Henderson), partem rumo a cidade de Washington D.C, em busca de uma entrevista com o presidente dos Estados Unidos. Em meio a um cenário caótico de uma guerra civil que assola o país, vemos cenários de que a lei e os direitos humanos já não se fazem mais presentes no Estado. Dessa forma, os jornalistas vivem diariamente arriscando suas vidas, mas é pela lente deles que vemos o terror numa zona de guerra.

Análise – Guerra Civil (2024): O jornalismo num presente distópico tão próximo da realidade que chega a assustar.

Alex Garland que já entregou obras incríveis como Extermínio e Ex-Machina, agora entrega um provável blockbuster, digo isso pela grandeza do filme. Não é fácil o trabalho de expor uma guerra numa tela, ainda mais quando falamos de uma guerra civil. A destruição de prédios, o abandono de cidades e vias, os entulhos deixados pelos cidadãos, todo aquele cenário apocalíptico que já conhecemos está presente em Guerra Civil.

Digo que o longa se tornou muito mais interessante quando descobri que nós assistiríamos a guerra não pelo olhar dos soldados, mas sim, pelo olhar de jornalistas, suas câmeras é que contam a história do que acontece no país. Não espere uma explicação profunda do que aconteceu para este cenário distópico ser o título do filme, basta entender que existem forças contrárias as forças do exército e que de fato o país está quebrado, como por exemplo, o dólar não ser uma moeda forte, sendo menosprezado pelos cidadãos americanos.

Não demora muito para entender que Lee segura todo um passado de guerra em seus ombros, os traumas que já foram vivenciados pela personagem são facilmente percebidos pelo público, ela está cansada. Além de estar num momento arriscado, Lee acaba sendo uma mentora para a jovem Jessie que se colocou nessa viagem sem a expertise da renomada fotojornalista. Kirsten Dunst parece ser a peça perfeita para uma personagem fria e madura, seus olhares pesados de quem já viu muita coisa através de suas lentes nos causa um enorme desconforto.

Análise – Guerra Civil (2024): O jornalismo num presente distópico tão próximo da realidade que chega a assustar.

O longa se torna tenso desde seus primeiros minutos, estamos numa zona de guerra, a cada nova cena estamos numa zona de guerra, não descansamos, não conseguimos nos distanciar e respirar um pouco. Os poucos momentos de paz que encontramos, ainda estamos em guerra ao fundo, como em Zona de Interesse, com sons de tiros e gritos ao fundo. Por mais que o personagem de Wagner Moura seja responsável pelos poucos momentos de respiro ainda somos surpreendidos por um design de som IMPECÁVEL. Sim, digitei em caixa alta, pois, fiquei surpreso com a qualidade do som neste filme. Na mesma medida em que não ouvimos absolutamente nada após uma explosão, somos surpreendidos por tiros, gritos e por um exército completo com dezenas de helicópteros que entram em cena sem o menor preparo do público.

Ainda que estamos em guerra conhecemos pessoas que fogem de tudo que está acontecendo e seguem sua pacata rotina longe de tudo. Engraçado como isso não é uma distopia, pois, sabemos que é dessa forma que realmente acontece, ainda que há guerra, entraremos zonas de normalidade e isso choca quem está vivenciando o terror, assim como choca nossos personagens quando encontram essa zona de paz. Porém, ainda que há paz, o medo está ali presente, nem que seja escondido, mas está.

Análise – Guerra Civil (2024): O jornalismo num presente distópico tão próximo da realidade que chega a assustar.

E o que Alex Garland tenta nos contar aqui?

Bom, estamos no presente, mas numa distopia, quando dizemos que este é um cenário irreal, não estamos olhando com clareza nosso mundo atualmente. Por mais que a guerra civil não esteja acontecendo nos Estados Unidos, vemos guerra acontecendo em todo lugar. Facções em guerra com militares, países que entram em conflitos, a população que entra em conflito com governos e dessa forma vemos um gatilho de uma guerra civil acontecendo o tempo todo. No longa, conhecemos um presidente que não aceitou a democracia e foi para um terceiro mandato, levantando a fúria dos cidadãos colocando uns contra os outros, tornando este cenário completamente possível. Vemos a discordância política entre as pessoas se resultar em sangue, afinal, se você não está comigo, está contra mim e contra os meus ideais. Assistir a Guerra Civil num ano de eleição, em que já conhecemos que só haverá dois lados realmente aumenta a tensão entre os poderes e entre a população, logo, o cenário de uma guerra civil nunca está longe de acontecer.

O que mais me chocou foi a normalização da violência, os fotojornalistas já veteranos como Joel, Lee e Sammy não se abalam por cada momento de tensão, mas Jessie que é apenas uma jovem adentrando nessa zona de guerra fica chocada assim como nós, o público.

Por fim, as fotos tiradas pelos nossos jornalistas ainda que não sejam todas de excelente qualidade e com bom ângulo, algumas poderão ser salvas estampar manchetes ou aparecer futuramente em museus. Não é difícil de vermos essas fotos nos dias de hoje, fico imaginando a vida de um jornalista de guerra, vivenciando o campo de batalha, olhando o terror e o pior do ser humano, olhamos para as imagens captadas por esses jornalistas e voltamos a nossa rotina sem que isso nos interfira. Optamos pela zona de paz, enquanto a escalada para uma possível guerra vai acontecendo do nosso lado.

Mais uma vez, a A24 acertou.

Guerra Civil chega aos cinemas no dia 18 de abril e já está com pré-venda, se quiser uma experiência completa veja no cinema.

Nota: 4,5/5

Topo