Valesca Popozuda fala sobre novo single, trabalho na pandemia, parceria com o filho e ser mulher no funk
A rainha do funk brasileiro bateu um papo com o Hashtag Pop e contou alguns detalhes da carreira.
A caminhada de Valesca Popozuda no meio artístico não foi fácil, mas a artista conseguiu se firmar no mercado da música e hoje é um dos nomes mais importantes do funk no Brasil. Antes de ganhar o mundo com suas gravações, Valesca trabalhava em um posto de gasolina. Nos anos 2000, ela deu o pontapé inicial em seu sonho fundando o Gaiola das Popozudas. Liderado por Popozuda, o grupo se tornou um dos maiores de funk desde o surgimento, sendo sempre lembrado pelas músicas icônicas.
Uma artista única, carismática e sempre “pé no chão”, Valesca se destacou do grupo e em 2012 embarcou em carreira solo. A cada passo, um novo patamar foi alcançado dentro de um ambiente inicialmente movimentado por homens. De músicas explícitas até hinos que exaltam a liberdade da mulher, Valesca se firmou como a rainha do funk brasileiro, sendo pauta em veículos nacionais e internacionais, além de ser objeto de estudos feministas e/ou sobre a música em universidades do país.
Em entrevista exclusiva para o Hashtag Pop, Valesca Popozuda contou alguns detalhes sobre carreira, falou sobre família e comentou sobre o novo single.
A vida durante a pandemia
Com o agravamento da pandemia do novo coronavírus e a impossibilidade de fazer shows no país, os artistas, especialmente os independentes que têm as apresentações ao vivo como principal fonte de renda, precisaram se reinventar e buscar maneiras de sustento. Com Valesca não foi diferente. A dona do hit nacional “Beijinho no Ombro” confessa que inicialmente sentiu medo, mas que as coisas foram caminhando.
“O show é a minha principal renda, no começo eu pirei, pensei ‘vou ter que voltar a trabalhar no posto (frentista)’ e eu iria mesmo sem problema nenhum, mas aí eu aprendi a me reinventar e graças a Deus as coisas foram mudando”, relata.
Uma das ferramentas mais importantes para os artistas e influenciadores neste período foram as redes sociais. Com mais de 3 milhões de seguidores no Instagram e quase 2 milhões no Twitter, Valesca contou que passou a correr atrás das famosas ‘publis’, algo que ela não dava tanta atenção antes.
“Eu busquei fazer coisas novas na internet que eu não fazia antes, eu fui para o App Bigo vídeo, passei a trabalhar lá, investi na publi de insta, passei a fazer propaganda,s coisa que eu não corria tanto atrás”, conta.
Mesmo não focando tanto em trabalhar suas redes sociais de forma comercial, Valesca sempre manteve um contato mais íntimo com os fãs através de seus perfis oficiais. Sempre uma troca de muito amor e carinho. A exposição online gera ‘hates’ e frequentemente abre portas para vários debates, especialmente abordando questões de bullying e saúde mental. Ao longo da carreira, a funkeira já lidou com comentários negativos em relação às letras, ao corpo e às roupas que vestia para se apresentar. Ao ser questionada sobre como ela lida com esses comentários, Valesca responde:
“Eu não assimilo, esses tempos eu li de uma pessoa que dizia me ‘amar’ e ‘ser fã’ coisas pesadíssimas. Eu procuro não filtrar, eu bloqueio, mas no fundo a gente sempre se machuca, uma coisa ou outra te faz chorar, às vezes eu choro, mas na maioria eu procuro não dar atenção”, afirma.
O funk
O amor por Valesca Popozuda é geral. Desde os ‘popofãs’ (nome oficial da fã base da artista) até jovens cantoras que estão iniciando sua caminhada no funk, todos ressaltam sua admiração pela força que Valesca representa, tendo a funkeira como referência. Para ela, ser fonte de inspiração para inúmeras mulheres no funk e na música em geral é “satisfatório”.
“No começo eu não entendia muito bem esse lance de referência, hoje eu entendo que tive um papel importante que para muitas que estão vindo ou vieram, eu sou uma boa referência”, destaca.
O funk é um dos principais ritmos do Brasil. Em março deste ano, após a apresentação de Cardi B no GRAMMYs 2021 ao som de um remix de Pedro Sampaio, Rick Bonadio fez comentários negativos sobre o gênero musical e sobre as letras dos proibidões – estilo que Valesca é destaque.
O assunto gerou debates nas redes sociais. Além de Valesca, outros nomes do cenário como Anitta, Tati Quebra-Barraco, MC Rebecca, entre outros, responderam o produtor.
“Olha um produtor mesmo entenderia que tocar segundos no Grammy significa muita coisa, eu acho que ele na verdade colocou o gosto pessoal em cima de um comentário sem noção. Funk é um ritmo que todo gringo gosta, até porque o batidão de tamborzão, só nós sabemos fazer”, comentou Valesca durante a entrevista.
Uma visão elitista e limitada sobre um dos principais ritmos do Brasil, originário de grupos marginalizados e que, por anos, sempre foi alvo de comentários depreciativos.
Em anos de estrada, Valesca viveu várias eras nessa indústria e nunca abandonou suas raízes, passeando com seus hits pelo funk proibidão, funk melody, versões mais lights entre outros. Para ela, as mulheres do funk ainda são julgadas, mas nos dias de hoje é mais “tranquilo” trabalhar nesse meio.
“É mais tranquilo que há 10 anos atrás, antes ainda era muito julgado, hoje continua sendo julgado mas as mulheres de hoje tem um espaço maior (redes sociais) para se defender”, comentou.
Família
Valesca é nitidamente uma pessoa ‘família’ e sempre demonstrou a ligação forte que tem com o filho Pablo Gomez. Crescido no meio da música, o jovem garoto vem seguindo os passos da mãe e se jogando também no funk. Valesca conta que fica “babando” com o filho trilhando um caminho parecido e destaca que sempre o apoiou, mas que respeita o espaço de Pablo.
“Eu sempre apoiei ele em tudo, ele sabe que não é fácil, eu fico de longe só acompanhando, fico babando, mas eu deixo o espaço dele, quando ele me pede opinião eu dou. Não fico em cima, não fico cobrando, eu deixo ele ter o próprio caminho”, disse.
Ao ser questionada se uma parceria entre mãe e filho pode acontecer, Valesca afirma: “Ainda não!” e completa:
“Eu tenho um estilo e ele outro. Já levei ele no meu show para ele cantar, dividi o palco com ele, mas musicalmente ainda é cedo”.
Pablo Gomez assina como MC Pablinho e já lançou as músicas “Acompanha O Beat”, “Sentando pro Pai”, “Amizade Colorida” e “Tá Tudo Liberado”, todas disponíveis nas plataformas de streaming. Ao longo dos anos, muitas letras cantadas por homens, seja no funk ou em outros gêneros musicais, foram apontadas como machistas ou que viessem carregadas de algum preconceito.
Valesca sempre foi uma mulher empoderada, defendendo pautas feministas e da comunidade LGBTQIA+. Ao ser questionada sobre o que espera do filho tão jovem nesse cenário, a funkeira destaca que ele é “muito cabeça” e sabe o que é e o que não é certo.
“Eu sempre dei liberdade pra ele, ele sabe o que eu penso e o que eu defendo, espero que ele não siga esse caminho, mas ele é muito cabeça. Ele sabe o que é e não é certo”, afirma.
Projetos para o futuro
“Beijinho No Ombro”, “Mama” (part. Mr. Catra), “Meu Cu É Teu”, “Quero Te Dar”, “Bota esse Shortinho”, “Viado”, “Tá Pra Nascer Homem que Vai Mandar em Mim”, “Bebida que Pisca”, “Hoje Não Vou Dar Eu Vou Distribuir”, “A Soda tá Liberada”, são apenas algumas das músicas memoráveis que fazem parte do repertório de Valesca Popozuda. Com letras que variam de momentos de diversão, frases que se transformaram em bordões famosos até faixas que abordam a liberdade e os desejos da mulher, Valesca se consolidou como um dos fenômenos da música brasileira. No TikTok, frequentemente uma ou outra letra da artista vira trend.
Em 2019, após muitos pedidos por faixas de funk proibidão, Valesca lançou o EP “De Volta Pra Gaiola” com 4 faixas que relembram o início da carreira quando ainda fazia parte do grupo Gaiola das Popozudas.
“Furduncinho”, “Fada Madrinha” e “Me Come e Some” estão entre os últimos lançamentos da funkeira. Para 2021, Valesca adianta que vai ter música nova com videoclipe e parceria.
“Tem sim! Música nova, vai ter clipe novo esse ano, terá parceria sim! Podem aguardar que VEM AÍ”
afirma Valesca.
Ansiosos por música nova, perguntamos para Valesca o que podemos esperar da próxima música. Com um pequeno spoiler¸ a carioca destaca:
“Hahahaha é um proibidão mais light mas é como vocês gostam!”
Vários artistas se arriscam em outros ritmos. Será que um dia podemos ouvir Valesca Popozuda, uma das figuras mais icônicas quando o assunto é funk, cantando sertanejo? Ela responde:
“Quem sabe? ‘Mama’ é um pagode romântico [ela ri] eu gosto muito de um sertanejo, acho que pode dar bom!”, disse.
Com anos e anos de uma carreira consolidada, sendo referência no que faz, Valesca ainda encontra espaço para sonhar. Em meio a tanto trabalho, um sonho ainda não realizado é a gravação de um DVD.
“Gravar meu DVD é o meu maior sonho”, finalizou.
Enquanto a gente espera música nova e fica torcida para Valesca Popozuda gravar seu primeiro DVD, após a pandemia, e com uma possível reunião da formação original do grupo Gaiola das Popozudas, vamos curtindo os trabalhos antigos de uma das figuras mais importantes do funk!