Hashtag Pop

‘O CORRE’: em entrevista ao Hashtag Pop, Lili AM fala sobre novo single, inspirações e os desafios da mulher no rap

“Ter que provar mil vezes mais que somos realmente boas enquanto os caras fazem as mesmas letras, os mesmos assuntos”, disse Lili AM sobre os desafios da mulher no rap. “O Corre” já está disponível em todas as plataformas de streaming.

publicado em
Foto: Igor Saavedra

Com muita dedicação e versos que empoderam mulheres, Lili AM segue trilhando seu caminho rumo ao estrelato. Mineira de Manhumirim, cidade da Zona da Mata, aos poucos a artista vai construindo seu legado na cena do rap nacional.

“Tô vencendo com o tempo. Até quero a fama,mas quero ainda mais conquistar. Eu tenho talento, eu faço e sustento. E eu quero o que o sucesso tiver pra dar”, canta a artista em seu mais novo trabalho, “O Corre”. A faixa, uma composição de Lili AM com produção de Galdino, já está disponível em todas as plataformas digitais.

Para celebrar esse momento tão importante na carreira, Lili AM concedeu uma entrevista exclusiva para o Hashtag Pop e falou sobre “O Corre”, inspirações e os desafios das mulheres no rap. Confira o resulta do bate-papo:

“Eu quero o que o sucesso tiver pra dar”, destaca a artista sobre a letra de “O Corre”. Lili AM revelou que o single foi escrito em 20 minutos logo após ouvir o beat da faixa.

“Galdino, produtor musical dessa faixa e também meu grande amigo, me mostrou o beat no estúdio e eu já comecei a compor. Em 20 minutos, a faixa estava pronta… criando meu cronograma de lançamento, vamos encaixando as músicas de acordo com o que eu quero mostrar e O CORRE entrou agora como meu 3º lançamento pela Real Records. Na letra, eu escrevo que ‘estou vencendo com o tempo, até quero a fama, mas quero ainda mais conquistar’ e pra quem me pergunta o que eu quero com a minha carreira, eu respondo: ‘ eu quero o que o sucesso tiver pra dar’”, revelou.

“O Corre” representa “o meu potencial em vários lugares”, afirma Lili AM. “Desde a letra, o beat, o flow, até toda identidade visual e os códigos sociais , em maioria machistas, que eu decidi mostrar no clipe”. O videoclipe do single já está disponível no YouTube e conta com a direção da própria artista em parceria com Edvaldu Neto.

O visual traz referências e códigos sociais, desde como as mulheres são tratadas até elementos que fizeram parte de um relacionamento abusivo vivido pela artista.

“A castração masculina (que eu acredito existir) eu represento com o corte da berinjela, como se todo homem quando nascesse fosse obrigado a cortar sua essência para construir a partir dali toda a problemática opressora que cerca a existência feminina. O repolho cortado representa o cérebro de nós mulheres porque somos induzidas a NÃO PENSAR, não falar, não incomodar, não questionar. O tênis que eu uso é o tênis que o cara do meu último relacionamento usava, e estar dançando com ele em um clipe meu me mostra resistência e superação por não ‘abaixar’ pra um relacionamento abusivo, não me corromper pra agradar a masculinamente tóxica que permeia os relacionamentos e pessoas. A cozinha representa o lugar onde nós mulheres somos ensinadas a orbitar, somos induzidas a conhecer e explorar. Essa cozinha na verdade é meu estúdio e o bolo é a música. No fim do clipe eu apresento o bolo com uma máscara no meu rosto, em uma cena que aparece minha tatuagem I AM, após a tatuagem aparece o bolo escrito O CORRE. A máscara é a embalagem do produto que nós artistas mulheres somos obrigadas a usar pra entrar nesse mercado e conseguir passar nossa mensagem. As imagens no clipe formam a frase: I AM O CORRE – ou seja, eu sou o próprio corre, eu tenho talento, eu faço e sustento”, explica.

Com versos que trazem a mulher como protagonista Lili AM comenta sobre os maiores obstáculos enfrentados na cena do rap (trap/hip-hop) – gêneros que ainda são dominados por homens. “Temos muitos obstáculos e nessa lista não sei dizer o que é pior ou maior. Porém, estamos em uma cena que borbulha masculinidade tóxica, uma cena onde os homens ganham dinheiro falando justamente da nossa sexualidade e não precisa fazer nenhum esforço pra perceber isso”, destacou.

A artista ainda completa que, para ela, o maior obstáculo é não ser levada a sério. “É ter que provar mil vezes mais que somos realmente boas enquanto os caras fazem as mesmas letras, os mesmos assuntos, os mesmos flows e conseguem milhões por isso. Essa é a prova da sociedade em que vivem, o popular é machista e sexista, é sujo e escroto pra nós mulheres. Eu quero pegar esses limões e fazer uma limonada, falar da sexualidade e vivência feminina sobre o nosso ponto de vista! Na verdade, deveríamos receber por direitos autorais de todas essas letras que circulam aí no mercado. Fica a dica. Reparação histórica!”.

Para compor, Lili usa a própria vivência como fonte de inspiração, reforçando toda sua luta e o poder feminino. “Minha vida é minha maior inspiração, todas a vulnerabilidades que eu já passei e a forma como hoje considero ter chegado em um lugar onde eu posso pensar, posso falar, posso me posicionar, posso maternar, ser artista, transgressora, subversiva. Ser mulher é coisa pra caramba! Nunca tivemos voz, não chegamos nem perto de uma evolução feminista no meu ponto de vista, as mudanças que são importantes e poderão um dia fazer a real Diferença para o nosso gênero estão longe de acontecer. E isso só me dá mais força e vontade de seguir me inspirando em mim e nas minhas vivências, na verdade que não é dita e eu sei que muitas mulheres vão se identificar”, contou.

Além de “O Corre”, a artista lançou este ano as faixas “Fala Meu Nome” e “Qual Teu Preço”. No Spotify, Lili AM soma mais de 35 mil ouvintes mensais. Inspirada pela sua própria história, ela relembra o crescimento no interior de Minas e como todas as dificuldades enfrentadas refletem em sua arte e servem de inspiração para outras artistas que sonham em alcançar destaque na indústria fonográfica.

“O meu crescimento no interior de Minas me trouxe até aqui e me sustenta. Nasci na zona rural do interior de Minas Gerais, de uma família muito pobre. Trabalhei na lavoura desde cedo e fui criada pro mundo, com os olhos atentos e sem nenhum pudor. Meu contato com o tráfico surgiu na minha adolescência e por necessidade de sobrevivência. Vir da pobreza em um país como o nosso e conseguir chegar em uma capital como o Rio de Janeiro sozinha e sobreviver é pra poucos. Eu sei que tem muitas Liliams espalhadas por aí, precisando de ajuda, de apoio , de oportunidade ou só de força pra seguir em frente e acreditar que podemos sim mudar a própria realidade. Eu estou mudando a minha”, relatou.

Por fim, Lili A  deixou uma mensagem para a garotinha Liliam que começou a se conectar com a música por influência da mãe e deu início ao sonho de ser artista.

“Liliam, nunca na sua vida acredite mais no poder e capacidade de um homem do que no seu próprio poder e capacidade. Nunca confie mais em um homem do que em você mesma e nunca duvide do que um homem é capaz de fazer pra conseguir o que quer. Seja forte, seja fiel a suas ideias e não perca tempo tentando procurar o que você ja tem dentro de você mesma, o amor”, finalizou.

Conheça mais de Lili AM:

Aparece na notícia:,
Topo