Hashtag Pop

Kika Boom conta detalhes sobre a concepção e curiosidades do ‘Kikadão Vol. 1’

Kika Boom é uma artista em ascensão no Brasil. A drag queen, que já escreveu hits para vários cantores, incluindo Pabllo Vittar, acaba de lançar seu primeiro álbum de estúdio.

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Foto: GLRMO

Kika Boom acaba de lançar oficialmente o primeiro álbum de estúdio, intitulado “Kikadão, Vol. 1”. O primeiro volume do projeto é composto por 7 faixas, com parcerias entre Boombeat e Mia Badgyal, na faixa “Tá Quente”, e Lia Clark em “Som Legal”, lançada em 2020.

Para o lançamento do disco, o Hashtag Pop teve a oportunidade e bater um papo com Kika Boom. A drag queen nos contou detalhes sobre o processo de produção, a divisão do álbum em “Kikadão, Vol. 2” para o segundo semestre, um terceiro CD, novos videoclipes, a fase de início da carreira, sonho em colaborar com Duda Beat e muito mais. Você confere todos os detalhes a seguir:

Kika Boom destaca que o “Kikadão, Vol. 1” é um “caldeirão” de gêneros músicas, carregado de brasilidade e referências à cultura pop. A artista ainda afirma que o álbum consolida muito bem o trabalho que vem lançando desde que estreou no mundo da música.

“Esse disco é um caldeirão de gêneros musicais, de brasilidade, de estrutura e melodias pop. É uma verdadeira sopa de letrinhas. E eu acho que ele consolida muito bem o que eu tenho feito até agora porque até agora antes de lançar o disco o que eu tenho lançado é justamente músicas diversas. Eu tenho “Lento” que é um reggaeton, “Som Legal” que é um pagode/axé, “Bomba Kleyton” que é um brega funk. Então assim, tudo que eu lancei até hoje eu acho que foi consolidado com esse álbum”, destacou.

No histórico, Kika coleciona hits como Bomba Kleyton e Loka de Pinga, acumulando milhões de reproduções no Spotify. O primeiro disco da carreira da drag queen goiana foi lançado agora em 2021, mas Kika vinha trabalhando no álbum desde 2018. Inicialmente, a ideia era de que o projeto fosse lançado em março do ano passado, mas os trabalhos paralelos e a pandemia do novo coronavírus acabaram impedindo que o “Kikadão, Vol. 1” chegasse ao público naquele ano. Para Kika, lidar com o tempo foi a parte mais difícil durante o processo de produção do disco.

“Eu acho que o tempo foi o nosso maior inimigo na produção porque o disco tá sendo produzido desde 2018, mas ele atrasou bastante porque a gente, enfim, eu estava compondo para outros artistas. Pedrowl também estava produzindo para outros artistas. Eu estava trabalhando com outras coisas. Eu queria viver da música, mas ainda não conseguia viver 100% da música. Então, sabe, a gente foi galgando passos muito curtos até chegar ao resultado de hoje. O CD, inclusive, era pra ter saído em março do ano passado, mas por conta da pandemia a gente aproveitou pra compor mais. Aumentar esse projeto”, comentou.

Trabalho na pandemia, composições e “Kikadão, Vol. 2”

Kika, que recentemente se mudou para São Paulo e contou detalhes em um vlog em seu canal no YouTube, destaca que a criatividade foi sua principal ‘arma’ durante todo o período de 2020 e é o que a mantém na ativa.

“Trabalhar na pandemia, eu acho que não tá fácil para ninguém. Um clima muito caótico no país, no mundo. Muito medo, muita ansiedade, muita tristeza. A arma que tem funcionado para mim é a criação, é a criatividade para me manter são, para me manter posicionado em relação às coisas. É a criatividade que me mantém ativo, foi o que me salvou no ano de 2020”, disse.

Ela ainda relata que compôs quase todos os dias na quarentena e, com isso, o disco acabou sendo dividido em dois volumes.

“Eu compus quase todos os dias da quarentena. Mesmo que fosse um trecho de uma música que nem vai sair eu estava compondo com o Pedrowl, que é meu produtor, e foi por isso que meu disco Kikadão acabou sendo dividido em dois volumes. Volume um, agora, e o volume dois que vai sair no segundo semestre porque eu acabei compondo mais músicas do que o disco teria”, contou.

Para Kika, a divisão do disco de estreia em duas partes (“Kikadão, Vol. 1” e “Kikadão, Vol. 2”) foi a melhor estratégia encontrada para trabalhar durante o ano todo. Ao todo serão 14 músicas, 7 no primeiro semestre e mais 7 no segundo semestre de 2021.

“Se eu lanço 14 músicas agora vai passar dois meses e as pessoas já vão ter saturado um pouco disso e no semestre que vem elas vão começar a me bombardear para poder compor outras coisas. Então, a maneira mais legal que a gente achou para estar sempre trazendo novidades foi dividir o álbum em dois volumes”, comentou.

Ela ainda adianta que o disco não possui um videoclipe gravado, mas que já está no processo de criação, buscando referências para produzir o clipe. De acordo com Kika, a ideia é gravar ainda nesse mês ou no começo do mês que vem e lançar entre junho ou julho.

“E depois eu venho com o Kikadão volume dois com mais um clipe e aí a gente tem música para o ano todo”, afirmou.

Ao longo de todo esse período, o “Kikadão, Vol. 1” foi ganhando vida. O primeiro anúncio oficial referente a esse projeto tão importante foi em 14 de abril, com o anúncio do nome do disco através de uma ação com a Coca-Cola. Na ocasião, Kika utilizou latinhas do refrigerante estampadas com letras para criar o título do disco. Para ela, receber apoio de uma marca mundialmente conhecida como a Coca-Cola em um projeto solo e sendo artista LGBTQIA+ é muito importante.

“Eu fiquei muito feliz que a Coca me chamou para ser uma das influencers dessa divulgação das latinhas de alfabeto. Amei, amei porque eu acredito justamente que gerar oportunidades para pessoas LGBTQ’s é muito importante. Gerar oportunidades para essas pessoas, pra comunidade, vale muito mais do que um pedido de desculpas, do que uma nota de repúdio. A gente quer oportunidade, ser inserido, quer ter uma chance, quer estar ali. A gente quer ser considerado pela sociedade. Então eu aceitei, fiquei extremamente feliz. Eles me deram todo um suporte, todo um apoio pra tudo. “Amei muito participar dessa ação”, relatou.

Kika ainda ressalta que é necessário cobrar as marcas ou artistas não só no mês do orgulho, mas durante o ano todo.

“A gente vai celebrar agora o mês do orgulho LGBTQ+, mas a gente precisa lembrar que pessoas LGBTQ’s morrem todos os meses, então o mês do orgulho LGBTQ+ precisa se estender, sabe. A gente precisa cobrar das marcas todos os meses, é o ano todo. A gente precisa cobrar dos artistas do ano todo. Só pra gente ficar ciente disso”, destacou.

Ao longo da carreira, Kika Boom sempre escreveu as letras mais variadas, falando de amor e diversão e, muitas vezes, brincando com o duplo sentido. Em “Kikadão, Vol. 1”, ela adianta que as composições variam, mas que espontaneamente surgiu um foco: todas as letras falam de música.

“Tem letra de tudo, mas eu acho que existe um foco que acabou surgindo espontaneamente. Não foi nem proposital! Todas as letras, a maioria das letras do CD falam de música. A primeira letra, de “Pra Você”, eu falo ‘olha meu bebê esse som é pra você’. Aí em “Kikadão” eu falo ‘essa aqui tu vai gostar; eu preparei delícia pra você saborear uma batida pra quem tá com fome de dançar’, eu falo de música também. Em “Som Legal” eu falo ‘me amarro num som legal’. Eu acho que esse CD as letras são musicais e de declaração, sabe, eu falo de música e de amor”, disse.

Cada artista se inspira em coisas, pessoas e momentos diferentes da vida para compor. Com Kika Boom não é diferente, mas seu processo criativo para dar vida a uma nova composição, às vezes, surge de momentos nos quais ela não viveu.

“A maioria das minhas composições são inspiradas em situações que eu não vivi porque eu quero tanto viver essas situações que acabo me colocando nelas na música. Algumas músicas, sim, eu me inspiro em situações reais que aconteceram comigo, mas a maioria eu penso assim ‘nossa e se eu vivesse isso’, ‘e se eu passasse por isso como eu faria’, ‘como eu, Kika Boom, seria se eu tivesse sofrendo por alguém nesse momento’”, afirma Kika que ainda destaca seu aprendizado através da, justamente, da composição para outros artistas.


“Eu sempre tinha que me colocar no lugar deles para poder tentar compor alguma coisa que eles queriam”
, finalizou. Kika Boom assina composições de vários artistas do cenário, como Pabllo Vittar (“Miragem” e “Irregular”), Mateus Carrilho (“Então Vem”), Urias (“Rasga”) e Lia Clark (“Tipo De Garota”, “Bumbum No Ar”, entre outras).

Curiosidades do disco, Podcast das Irmãs e inspirações

Durante a entrevista, pedimos que Kika nos contasse um momento engraçado ou curioso que aconteceu durante o processo de produção do disco e a artista relembrou quando tentou colocar um trecho do filme “O Mágico de Oz” na faixa de abertura do “Kikadão, Vol. 1”, mas que acabou dando errado.

“Curioso e engraçadinho na música “Pra Você” que é a intro. Eu e o Pedrowl queríamos fazer essa intro, mas a gente não sabia como deixar ela especial. A gente queria colocar um trecho do filme “O Mágico de OZ”. Enfim, a gente tentou colocar o trecho do filme e ficou podre, podre. Ficou horrível, ficou muito cafona. A gente acabou desistindo e fazendo tudo mais simples, só com violino e minha voz acapela atrás, fazendo o background”, contou.

Um dos parceiros de Kika Boom na produção e lançamento do “Kikadão, Vol. 1” é Pedrowl, com quem a artista divide um podcast ao lado de Vitor – o “Podcast das Irmãs”. O projeto, que estava em pausa até então, já possui um novo episódio gravado e tem chances de retornar às plataformas junto com o álbum de estreia de Kika.

“Eu nunca fui tão infernizada em toda minha vida. Quando o Podcast das Irmãs acabou, as pessoas estavam me mandando mais DM perguntando ‘cadê o podcast’ do que ‘cadê o álbum’. Mas vai voltar sim, vai voltar nesta quinta-feira, eu acho. Bom, o Podcast das Irmãs é assim né, a gente nunca tem uma data exata mas a gente já gravou o primeiro episódio de retorno das irmãs e acho que deve sair na quinta-feira junto com o disco se brincar, hein. Bom, não sei”, comentou.

Ao ser questionada sobre suas inspirações e artistas favoritos, Kika brinca que não consegue escolher apenas uma cantora. Lady Gaga, SZA e Alina Baraz são os destaques na playlist da drag queen que ainda escolheu uma música de cada.

“Eu gosto muito da Gaga e minha faixa favorita dela é “The Queen”. Eu acho a partição dessa música linda, a coisa mais linda. A letra e a melodia mais linda e o som de guitarra mais lindo que eu já ouvi na minha vida. A segunda é a SZA e eu amo “Normal Girl”. Essa música é incrível, melodias incríveis, a voz incrível da SZA. Eu ultimamente tenho gostado da Alina Baraz e eu gosto muito de uma música que chama “More Than Enough”. Eu amo essa música”.

Início da carreira e sonhos

A relação de Kika Boom com a música vem desde muito jovem. Antes mesmo de ganhar os holofotes com sua persona drag, Rafael Stefanini (nome de registro) dava os primeiros passos no mundo da música compartilhando covers nas internet e preparando o caminho para que Kika alcançasse seu espaço na indústria.

Em 2015, quando já havia assinado composição para Pabllo Vittar, Stefanini lançou o ep “ONDE”, que também contou com a produção de Pedrowl. Naquele mesmo ano, o jovem cantor abriu o show da artista em ascensão em São Paulo. Entre dificuldades e obstáculos, em 2018, Stefanini se encontraria em Kika Boom, lançando o single Fast Phoda, e agora, celebrando o lançamento do primeiro álbum de estúdio: “Kikadão, Vol. 1”.

O encontro entre Stefanini e Kika Boom talvez aconteça diariamente nos momentos mais íntimos e profundos, mas a drag queen deixou um recado para o jovem talentoso e sonhador que trilhava seu caminho em meio a tanta insegurança e incerteza:

“Olha o que eu falaria ‘eu sei que o seu show de abertura da MO foi muito ruim, que você estava muito inseguro, que você saiu muito decepcionado, que você ouviu as pessoas dizendo coisas ruins sobre você, que você baixou muito a cabeça, mas fica calmo que daqui uns anos você vai se encontrar. Você vai passar por muita coisa podre na vida, mas você vai se encontrar em coisas que você não se imaginava fazendo. Você vai na maquiagem, você vai olhar no espelho e vai ter certeza daquilo que você está vendo. As inseguranças vão continuar, mas você vai fingir que elas nem existem porque a gente finge até virar verdade. E sobre isso que é o drag: é fingir com verdade”.

Para encerrar o bate papo com Kika Boom, pedimos que a artista falasse sobre os sonhos que ainda não realizou. No top 3 da lista está uma parceria com Duda Beat, fenômeno da música brasileira. Além disso, Kika ainda comentou que o terceiro álbum de estúdio, o “KB3” (nome não oficial), está em processo de produção e será algo extremamente diferente e experimental.

“Muitos sonhos. Primeiro eu quero uma música no top Brasil do Spotify, que é importantíssimo. Eu já estive uma nos virais, mas nunca no top Brasil que é babadeiro. Eu quero um featuring com a Duda Beat que é meu maior sonho e eu quero também com a Pabllo, com a Glória, com a Potyguara, mas assim eu quero muito com a Duda Beat. Eu também quero lançar logo o KB3, meu terceiro disco que já está em produção, inclusive. Ele vai ser extremamente diferente, vai ser muito experimental, acho que as pessoas vão gostar muito. Vai ser muito diferente. E eu quero me ver mais nos programas, eu quero que as pessoas vejam uma drag goiana na Rede Globo de televisão, no programa da Fátima, do Faustão. É isso!”, finalizou.

“Kikadão, Vol. 1” é o primeiro álbum de estúdio de Kika Boom e já está disponível em todas as plataformas digitais. A segunda parte do disco, “Kikadão, Vol. 2”, chega no segundo semestre de 2021.

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