‘MAVAMBA renasceu a compositora em mim’: MC Xuxú fala sobre novo projeto e relembra trajetória
“MAVAMBA” chega às plataformas de streaming no próximo dia 11 de agosto. A mixtape conta com 8 faixas inéditas assinadas pela artista.
Para contar a história do funk brasileiro é necessário mencionarmos uma das mulheres trans pioneiras no gênero. Karolina Vieira para a família e amigos e MC Xuxú para os fãs espalhados pelo Brasil, é o nome que fica marcado nessa história.
Com quase 15 anos de carreira, MC Xuxú – dona de grandes hits LGBTQIAPN+, como “Um Beijo”, “Bonde das Travestis”, “Kit Assume”, entre outros, conquistou seu espaço na indústria através de muita luta.
Mesmo diante das portas fechadas e das dificuldades encontradas pelo caminho, especialmente por levar ao público um trabalho independente vindo de uma travesti, preta e periférica, a artista nunca se deixou abalar e continuou de cabeça erguida usando sua voz para cantar suas vivências e histórias, impulsionando a luta dos seus.
Depois do delicado e íntimo álbum “Senzala” (2018) e outros projetos lançados ao longo dos anos, incluindo o sucesso recente “Cinderela do Gueto” (2023) – parceria com Boombeat, MC Xuxú se prepara para colocar na rua a mixtape “MAVAMBA” que reúne faixas inéditas escritas pela artista ao longo dos anos.
O projeto chega às plataformas de streaming no próximo dia 11 de agosto. Para aquecer o público para “MAVAMBA”, nós tivemos a oportunidade de conversar com MC Xuxú que contou alguns detalhes sobre o disco.
“A ideia veio meio que no desespero”, afirma a artista sobre como “MAVAMBA” surgiu. “Foi em 2021 quando eu perdi o acesso a minha conta oficial do Instagram após denunciar transfobia em um sorteio. Eu fiquei muito mal com a queda e resolvi começar a produzir juntando músicas que estavam na gaveta há mais de 10 anos e outras que eu compus recentemente”.
“MAVAMBA” com 8 faixas, incluindo duas cações lançadas recentemente: “TRAVESTY” e “Cinderela do Gueto”. Além do lançamento no dia 11 de agosto, MC Xuxú contou à nossa equipe que vai lançar uma faixa bônus, intitulada “T.Q.S.”.
“Esse projeto representa a minha trajetória, nele eu canto minhas experiências desde o início da minha carreira até agora. Representa a força de pessoas trans periféricas”.
Misturando composições antigas e atuais, a artista revisou canções que foram descartadas ao longo dos anos e que foram repaginados para fazer parte desse projeto.
“Não gostei da produção na época e resolvi não lançar. Eu não opinava nas produções musicais, o que o produtor fazia eu assinava embaixo ou descartava. Hoje em dia eu opino, as ideias não são todas minhas, mas o martelo quem bate sou eu”, afirmou.
MC Xuxú conta que começou a produzir “MAVAMBA” por conta própria sem verba nenhuma, contanto somente com apoio de parceiros que conheceu ao longo da carreira.
“Até que fomos aprovados em um edital e consegui fazer com mais ‘tranquilidade’. Eu nunca juntei tantos artistas e profissionais em um projeto como juntamos no ‘MAVAMBA’. Estamos trabalhando há quase dois anos para esse lançamento. Não foi fácil, mas eu amo”.
MC Xuxú surgiu na indústria musical como uma artista do funk, mas que explorou outras vertentes da música em diferentes projetos. Segundo a artista, os fãs podem esperar não só uma mistura de sons em “MAVAMBA”.
“Esperem diversidade! Eu sempre transitei entre o funk e o rap e agora estamos transitando também suas vertentes, um exemplo é que na mixtape temos brega-funk e trap”.
Danny Bond, Pepita, Caetano Brasil, Aretuza Lovi, são alguns dos nomes com quem MC Xuxu já assinou colaborações. A variedade de sons e as letras potentes da MC não são os únicos diferenciais de “MAVAMBA”. O time de parcerias é forte!
“Chamei artistas da nova e também de antigas gerações. Nomes como Mulher Banana, Bixarte, Boombeat, Mc Trans, DonaChapa, Laura Conceição, Caetano Brasil, Wally, MlkdeMel, Aika Cortez, entre outros”.
Quanto ao nome do projeto, a artista conta que queria um nome diferente e que pudesse ser usado como uma nova persona, gerando o questionamento no público cis.
“Eu queria um nome diferente, que me representasse e que fosse tipo um alter ego. Um nome que pessoas cisgeneras questionariam, mas as travas entenderiam de cara. Aí surgiu ‘MAVAMBA’, meio que significa “malandra, marginal”.
A artista completa agradecendo a todes que fazem parte de “MAVAMBA” e contribuíram para que o projeto ganhasse vida e pudesse ser entregue ao público.
“É um projeto independente e tem muita gente envolvida. Inclusive sou muito grata a todes, mas as principais cabeças para esse projeto foram o Noah Mancini que escreveu a projeto no edital e fez toda produção executiva. Gustavo Bianeck que ficou por conta do marketing e também dos visualizers e a Paula Duarte que ficou na direção comigo”.
“‘MAVAMBA’ renasceu a compositora em mim”.
Em mais de uma década de carreira, MC Xuxú mostrou ao mundo trabalhos que reafirmam a artista potente que é. De acordo com a artista, a mixtape surgiu em um período que ela não se identificava com as letras que escrevia e “MAVAMBA” é como o renascimento enquanto compositora.
“Chegou um momento da minha vida em que eu não gostava de absolutamente nada que eu escrevia, eu me sentia muito desmotivada. Escrevi ‘Um beijo’ sozinha, mas nada do que escrevi depois teve o mesmo alcance. Então desanimei. O ‘MAVAMBA’ tipo que renasceu a compositora em mim, trabalhar com as pessoas envolvidas me inspirou a estar cada vez mais dentro do projeto e perceber que nunca foi tão sobre minha trajetória como tem sido. O ‘MAVAMBA’ tem sido como ‘uma volta por cima’ pra mim”, revelou.
De mixtape à turnê! A artista pretende transformar o disco em um grande show. “Com certeza, já temos data para SP, RJ e MG, chama nois Brasil”.
Referência no funk e para a nova geração de artistas trans e travestis que sonham em alcançar o estrelato, MC Xuxú sempre esteve de braços abertos aos projetos de novos artistas. A artista destacou a importância de apoiar esses sonhos que vão além de “estourar” com uma música.
“A música me tirou da prostituição. O funk salva vidas!”
“Então logo vira uma esperança para muitos só que nada cai do céu, você tem que fazer com amor para não ficar na expectativa e sofrer com o processo. Eu vejo artistas querendo estourar logo no primeiro single e não é assim que funciona. O mundo já está cheio de pessoas negativas, eu gosto de apoiar o sonho das pessoas nem que seja com palavras”, disse.
Orgulhosa, MC Xuxú fala sobre o sentimento em revisitar a discografia, entender a caminhada e tudo que já foi feito em 15 anos de carreira.
“Eu gosto de assistir minhas coisas quando penso em desistir, lembro de cada sufoco que eu passei para estar onde estou e me sinto foda. Um dia sonhei viver do meu sonho e hoje vivo. Como diz a grande Luisa Marilac “Se isso é estar na pior, eu não sei o que é estar bem”.