Crítica: O Consultor (2023)
Série de sci-fi e suspense estrelada por Christoph Waltz, um vilão de respeito.
Quais atitudes somos capazes de tomar para conquistar destaques em uma empresa? Existe limite para ser reconhecido pela sua capacidade? Até onde as responsabilidades estabelecidas pelo supervisor devem ser atendidas? Além dessas, diversas outras perguntas podem ser feitas ao assistirmos “O Consultor”, a série da Prime Vídeo que está disponível com seus oito primeiros episódios nesta primeira temporada.
Eu havia me deparado com este título há um tempo e estava para dar o play, e após assistir o primeiro episódio eu já estava certo de que a série iria me entreter, iria explodir minha mente e deixaria diversas perguntas no ar, afinal, quem é “O Consultor”?
Em uma empresa de criação de games, os funcionários Craig (Nat Wolff de A Culpa é das Estrelas) e Elaine (Brittany O’Grady de The White Lotus) são surpreendidos pelo brutal assassinato do CEO da CompWare por um garoto durante uma visita de jovens na empresa. A seguir somos apresentados a Regus Patoff (Christoph Waltz), um homem de aparência elegante que aparece nas dependências da empresa durante a madrugada seguinte após o assassinato, dizendo ser o novo responsável pela empresa e solicitando a todos que retornem ao trabalho no dia seguinte. Elaine e Craig não conseguem entender como ou quem colocou aquele homem na posição de chefia, mas atendem seu comando assim como toda a empresa, e assim as atividades da CompWare são retomadas. Regus Patoff apresenta diversas características um tanto quanto estranhas e em sua primeira reunião de equipe, proclama o fim do trabalho remoto e pede que todos estejam na empresa em menos de uma hora, porém, não são todos funcionários que conseguem atender sua ordem e estes são demitidos. Elaine que até então possuía um cargo de Assistente Criativa do antigo CEO, entende que o trabalho do Consultor será de levantar lucro para a empresa, caso contrário, deverão encerrar as atividades. Sendo assim, Elaine e Craig começam a investigar a vida de Regus Patoff, e novamente são surpreendidos ao descobrirem que o antigo CEO assinou um contrato sem ao menos conhecer o tal Consultor, o que faz com que eles busquem respostas para diversas perguntas que vão aparecendo ao longo de sua infeliz estadia na CompWare.
O Consultor trás para nós a verdadeira imagem de uma chefia que nos causa desconforto. No mundo do entretenimento somos apresentados a alguns desses perfis como a famosa Miranda Priestly (Meryl Streep) de “O Diabo Veste Prada” que faz da vida da Andrea Sachs (Anne Hathaway) um verdadeiro inferno.
Na série exibida pela Prime Video, o brilhante Christoph Waltz carrega o peso de um protagonista e de um antagonista ao mesmo tempo. Durante toda a temporada o consultor é um homem que nos faz questionar se aquilo que estamos vendo existe apenas na ficção, afinal, podemos reconhecer esse mesmo perfil de liderança em diversas empresas.
Para os millenials o perfil de Regus Patoff é um verdadeiro pesadelo, pois, demonstra tudo aquilo pelo qual essa geração luta para mudar como perfil de liderança dentro das empresas. Uma grande questão é observar que durante a séries algumas ordens do consultor ainda que sejam absurdas são acatadas pela equipe, como por exemplo, um novo cargo disponível é colocado a disposição e os funcionários precisam lutar para conseguir este cargo, literalmente. Sim, os funcionários decidem por si quem deve ficar no cargo após uma batalha braçal. Olhando este cenário fictício é um absurdo que isso aconteça numa empresa, mas levando para o cenário real, vemos que as pessoas se sujeitam a diversas atitudes humilhantes para conquistar uma posição de destaque ali em seu local de trabalho. Isso também é válido para os funcionários Elaine e Craig que durante a temporada mostram que são capazes de fazer qualquer coisa para conseguir uma promoção, mesmo sendo críticos do trabalho de Regus Patoff. No início vemos Craig como um homem sedento por uma atenção a sua criatividade e sempre esnobado, e vemos Elaine uma mulher que faz qualquer atividade para ser notada como uma excelente líder. Ambos se destacam por suas atuações, tanto na construção de seus personagens como na construção de seus cargos dentro da CompWare.
Olhando para O Consultor vemos uma série que faz uma grande sátira ao mundo corporativo e aos funcionários sedentos por poder, somos apresentados a um perfil capaz de fazer qualquer coisa para ser notado dentro de uma empresa. A sátira é maravilhosamente bem escrita por Tony Basgallop, que traz um grande suspense, assim como levou para Servant. Em cada episódio somos levados a acreditar em diversas possibilidades de onde saiu Regus Patoff e para onde a trama será levada, afinal, somos surpreendidos pelas tomadas de decisão deste personagem, mas principalmente pela coragem e omissão dos personagens Elaine e Craig, respectivamente. O roteirista nos faz criar teorias de uma grande ficção científica, mas também nos apresenta uma grande comédia corporativa como em “The Office”. A complexidade da série é apaixonante, e nos obriga a rever situações que somos colocados dentro de nossas empresas.
Mais uma vez quero exaltar aqui a incrível atuação de Christoph Waltz que mostra novamente que tem sim o peso de um ator premiado. O ator anula expressões e sentimentos para qualquer situação, nos faz acreditar que aquele chefe nem é humano, por não demonstrar qualquer tipo de afeto ou empatia pelos funcionários. A frieza de suas cenas são ricas em detalhes como em seu tom de voz, sua falta de expressão e sua falta de gesticulação.
O Consultor acerta em seu número de episódios e acerta na duração de cada um deles, por volta de 30 minutos, o que facilita o consumo da temporada como uma maratona. Para amantes de um suspense, a série entrega isso, mantendo um suspense no seu final e deixando diversas perguntas em aberto. Talvez este possa ser seu ponto fraco para o público que prefere uma série redonda com todos os pingos nos “is”. Mas no geral, a falta de resposta entrega uma incrível primeira temporada com toda sua sátira e todo seu suspense, mostrando que o objetivo de Regus Patoff é único, e claramente você não encontrará a resposta dentro desta crítica.
A segunda temporada de O Consultor ainda é uma incógnita, pois, não há um posicionamento oficial de seus produtores ou da Prime Video, mas podemos acreditar que ela virá pela grande aceitação da crítica. Por fim, devemos entender que a série não romantiza o fato da exploração dentro do mundo corporativo, ela mostra o quanto somos capazes de se tornar desumanos para conquistar o poder.
Nota: ⭐⭐⭐⭐