Aquecimento Oscar 2024: Meu Amigo Robô mostra que até mesmo uma amizade de lata pode ser tão valiosa quanto o ouro.

A animação criada e dirigida por Pablo Berger traz uma obra sentimental e contemplativa, que aborda delicados assuntos do nosso cotidiano.

Ambientado em Nova York dos anos 80, Cão é um ser solitário que mantém sua rotina de comida industrializada e mudança de canais em sua TV durante a noite. Ao perceber sua solidão, uma propaganda informa que está vendendo um amigo, neste caso um robô. Quando o produto é entregue, Cão fica muito feliz e monta cada peça com muito carinho e cuidado. Quando a máquina está de pé, Cão e Robô percebem a forte conexão de amizade que nasceu ali naquele momento. Com muita alegria nos dias que avançam, os dois passam a curtir a vida até que numa praia durante o verão o rumo da história passa a ser outro. Sabendo que metal e água salgada não são parceiros, o Robô fica preso na praia enquanto a vida do Cão precisa continuar.

Um roteiro tão singelo e simples que traz uma profunda reflexão sobre nossas vidas e nossa relação social com as pessoas. A história se passa numa grande cidade, e como sabemos, grandes cidades não param. A todo instante encontramos pessoas nas ruas, nos transportes públicos, nos corredores dos apartamentos, enfim, isso não significa que com todas essas oportunidades de socializar não encontramos pessoas intrusivas que vivem em solidão dentro dessas cidades. O Cão representa essa pessoa solitária, de poucos ou nenhum amigo, que possui problemas de socialização ou por diversas questões de personalidades prefere se manter em seu conforto e sua rotina.

A ideia de trazer um amigo de lata aquece o coração do Cão, e metaforicamente podemos utilizar esse amigo de lata como amigos virtuais ou aqueles que se tornam muito presentes em nossa vida num curto espaço de tempo, mas que não há colunas para sustentar essa relação, sendo assim, facilmente se tornam lembranças. Quando o Cão é obrigado a deixar o Robô na praia, por mais que haja amor e carinho nessa amizade, diversos motivos o impede de fazer com que aquela relação continue firme. Facilmente me coloco no lugar do Cão, onde diversas vezes em minha vida, tentei manter relações, mas que não foram sustentadas, não por questões de dificuldades da relação, mas por falta de esforço de um ou de ambos os lados.

O enredo é tão especial que apenas em imagens conseguimos sentir tudo o que Cão e Robô sentem, afinal, nesta animação não encontramos falas, pelo simples fato de não precisar. A interação dos personagens e as cenas bem montadas são o suficiente para compreender todos os sentimentos existentes ali. Outro fator que nos coloca dentro da animação, trazendo a profundidade da mensagem, é o fato de que tanto o primeiro quanto o segundo plano são muito vívidos, nos deixando 100% conectados a trama, as ruas, aos personagens secundários, ao som urbano e as cores mantém a forte relação do filme com o espectador.

Outra grande mensagem é o fator da amizade e de sua fragilidade. Quando o Cão deixa o Robô na praia, aos poucos percebe que sua vida precisa seguir, enquanto a do Robô se torna um longo sonho de reencontrar esse grande amigo. A vida do Robô é despedaçada com o tempo, tudo aquilo que um dia ele sonhou é tirado dele, ele é desmontado, é maltratado e esquecido. Porém, com a presença de novas relações o Robô ganha esperança de uma vida nova, percebe o valor das verdadeiras amizades, vê que por mais que esteve sozinho durante muito tempo, ainda assim, amizades de grande importância podem surgir. Ainda que exista a lembrança de um carinho com aquele antigo amigo, se faz necessário regar, cuidar e preservar essa nova amizade, pois, é nessa nova amizade que a esperança voltou a brilhar em seu coração de lata.

Um desenho para crianças ou uma grande metáfora para nós adultos e nossas relações sociais?

Meu Amigo Robô está disponível nos cinemas.

Nota: 4/5